Perguntar dói, e muito!

Não importa o lugar, quando o assunto é petulância e má educação todo nós estamos sujeitos, ainda mais quando se quer algum tipo de informação importante – a coisa mais normal do mundo a um jornalista.

Escrevo isso porque fico revoltada e puta da vida ao ler que algum repórter apanhou enquanto trabalhava, como o jornalista que foi agredido por torcedores austríacos em uma transmissão ao vivo. Além da física, outro tipo de agressão que me tira do sério é a implícita, que vai desde desligar o telefone na cara, fazer de conta que não ouviu/entendeu ou até mesmo tirar sarro da situação, sendo que você precisa escrever sobre aquilo e não ouvir piadas do assunto. Mas, sem dúvida, a de não ser levado a sério é ainda pior, principalmente por aqueles que renegam ao jornalista justamente aquilo que é a base do seu trabalho: o direito à informação. Neste quesito, alguns assessores e puxa-sacos são experts e conduzem com maestria a falta de ética que pode haver no relacionamento com a imprensa (ainda bem que são a minoria).

Expondo o que considero agressão já dá para comentar a total falta de respeito que tiveram com um dos repórteres do CQC, o Danilo Gentili, quando ele cobria a visita da Marta (PT) em uma favela ao lado do Morumbi. Não gosto muito de comentar essas coisas, mas depois de ler a notícia do Ricardo Galhardo, de O Globo, e do Rubens Valente, da Folha, me deu tanta raiva que tive que escrever algo para deixar marcada minha opinião.

Ler notícia de internet é um pouco complicado, mas o primeiro jornalista noticiou que o repórter da Band teria sido impedido de chegar perto da ex-prefeita e que rasgou a bandeira de um militante que participava da visita na favela, em São Paulo. Já Valente relata que Gentili tentou gravar um quadro com a candidata, com um manequim semelhante ao que ela cumprimentou por engano (ótima idéia). Já dá para imaginar o restante da história, né?

Logicamente que rasgar a bandeira não é uma atitude coerente (apesar de não acreditar que ele tenha feito isso), mas nada justifica o que aconteceu depois. De acordo com a nota publicada, o repórter teria sofrido agressões que foram chamadas de “brincadeira” pelo fotógrafo da aspirante à prefeita sem-noção, César Ogata: “Foi uma brincadeira. O "CQC" não é um programa de humor?”. Comentário simplesmente ridículo, porque a brincadeira a qual Ogata se refere é instigar a população a "passar a mão na bunda dele [Danilo]”, conforme Galhardo.

De boa, quem assiste ao CQC e tem um mínimo de cérebro sabe que o programa é irreverente e tem humor sim, mas a base de suas matérias são totalmente jornalísticas; isto é inegável. Entretanto, a discussão que fica aqui é até que ponto vai a agressão a um repórter, sendo que no caso do Gentili foi física e verbal. Será que ele fez algum tipo de pergunta que "não deve" ser feita? E eu que aprendi que perguntar não dói, pelo menos em tempos de democracia...

A única justificativa plausível, na minha opinião, é que este tipo de atitude só fortalece ainda mais a idéia de que algumas perguntas podem doer tanto que é mais fácil responder com socos ao usar palavras. E já que é assim eu também acertaria o microfone ou meu bloco de notas como contra-resposta, com toda a certeza.

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