O surto da panqueca...

Há quem já tenha perdido o controle com uma fechada no trânsito, com a falta de comprometimento de alguém ou com conversa paralela no cinema. Há também quem já tenha perdido as estribeiras com cliente folgado, com o atendente mau educado ou com o atraso de entrega do item comprado pela internet. Conheço até uma pessoa que rodou a baiana porque disseram que ela tinha o braço gordo e gente que briga pela vez no aparelho de musculação na academia, mas confesso que até hoje não tive o prazer de conhecer mais alguém que tenha surtado por causa de uma inocente panqueca. E, sim, por uma pequena panqueca, fria e um dia passada (pelo menos era de carne!). 

Sinto-me até envergonhada por compartilhar este momento tão mesquinho, infantil e egoísta de minha vida adulta, mas já armei um circo em casa, xinguei meio mundo e quase registrei um boletim de ocorrência só porque meu pai - que é pouco esganado, só para registro, mas que o amo mesmo assim - foi lá e mandou para dentro a bendita panqueca que separei no forno para almoçar no dia seguinte. Sim, chorei igual criança neste dia, quando cheguei em casa mal humorada, esfomeada e abri a portinha do forno e pensei "cadê a panqueca?". Foi como se alguém tivesse me batido com um martelo na boca do estômago, que estava bem danadinho e mau humorado naquele dia. Minha mãe teve até que fazer uma panqueca para eu sossegar e ficar calminha, calminha. Após o episódio, inclusive, pensei até em escrever a minha própria versão do livro "Quem mexeu no meu queijo?".

Bom, e agora que compartilhei este fato inútil e menosprezível de minha existência explico o "porquê" de fazê-lo, um motivo bem justo por sinal: a cada dia que passa, o ser humano perde o controle dos sentimentos e saí por aí descontando nos outros sua insatisfação pessoal. Se não concorda comigo, acesse agora mesmo o seu perfil no Facebook - se não tiver ainda, pode ser no Google+, no Twitter, no Orkut ou olhe pela janela - e veja o quanto o povo age como se não houvesse o amanhã e fica transferindo a busca pela eterna felicidade a terceiros. Transformam seu descontentamento com algo em um motivo para causar a discórdia no mundo, para culpar o outro por sua insatisfação pessoal...

Não seria mais fácil assumir a culpa de que você não está bem e que ninguém tem nada a ver com isso, hein? A carne é fraca e a da panqueca é ótima, mas isso não é motivo para desrespeitar o próximo em atitudes que só prezam pelo próprio umbigo. A irritação pessoal não pode prejudicar as outras pessoas. Eu mesma, como todo ser humano repleto de defeitos, tenho me policiado - e muito! - e lutado para ter mais calma, serenidade e a fazer da paciência a minha aliada, sobretudo para aceitar o que não posso mudar, como o apetite do meu pai. Só quero ver se isso vai funcionar a próxima vez que a panqueca não estiver no forno, mas tudo bem. Perder a esperança é o que não se pode, vale a pena tentar!

Comentários

Everton Maciel disse…
até iria te recomendar um psiquiatra. Mas ele morreu hoje.
Carolina Ribeiro disse…
Eu passei por isso há muitos anos atrás... Eu tenho o hábito de tomar água gelada pela manhã.
Acordei um certo dia e não havia água gelada, peguei um copo, enchi de gelo e fui escovar os dentes. Quando voltei pra cozinha meu copo havia sumido e o responsável pelo "sumiço" foi meu irmão...
Tive exatamente a mesma reação que você, mas para o meu azar minha mãe não pode fazer nada porque aqueles gelos que eu usei também eram os últimos gelos no congelador... :(

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