A falta de lastro e o excesso de histeria...

Quando me perguntam qual é minha formação acadêmica e respondo “fiz jornalismo”, a expressão muda negativamente na cara da pessoa que está falando comigo. De uns anos para cá, aliás, a expressão que mais vejo é a de desprezo, mas o que mais me incomoda mesmo é aquele olhar de descrédito. 

Até meus próprios familiares e amigos próximos, muitas vezes, comentam comigo ou deixam escapar que jornalistas não servem para absolutamente nada, pois só sabem mentir em causa própria. De tanto que essa situação tem se repetido e intensificado, comecei a refletir ainda mais sobre assunto, tentando encontrar uma explicação. Afinal, de quem seria a culpa dessa insatisfação coletiva?!

Como estou no meu blog, eu mesmo respondo: dos próprios profissionais de comunicação, jornalistas tanto quanto eu, que ao invés de exercerem o ofício com responsabilidade e ética, passaram a praticar militância, lacração ou mitagem. Tudo depende da quantidade de likes que seus comentários, textos, áudios ou vídeos geram no público de sua preferência ou no time adversário.

E a credibilidade, minha gente, para onde foi? Deve estar esquecida junto à matéria-prima da profissão, que são os fatos. Talvez possa estar atrás das bolhas sociais, do amor enrustido, do espírito anarquista, dos grupinhos organizados, das bandeiras ou, ainda, na “esgotosfera” que se tornou a internet, cheia de gente que sabe e compartilha de tudo e que, na realidade, não lê, não escuta, que não sabe de nada e só grita em caixa alta.

Fico triste com esse descrédito, pela falta de lastro, de equilíbrio, de uma postura jornalística que não tenha compromisso com o erro. Infelizmente, o único compromisso perceptível ao grande público tem sido o de pregação dos fatos, contaminados em sua maioria pelas agendas pré-estabelecidas de ranços eternos.

Que os amores se façam presentes nas músicas, nos poemas, nas crônicas, nos contos, nos romances, entre outros tipos de narrativas. Aliás, há gêneros suficientes para atender às paixões desenfreadas. O que não pode é o jornalismo continuar a se transmudar em ficção, servir a egos que se inflam com curtidas, visualizações ou seguidores.

Tem humorista por aí apresentando os fatos de forma muito mais real que os jornalistas. Na contramão, também há muitos jornalistas escrevendo mais piadas e asneiras que os humoristas.

Aí, como eu gostaria, sinceramente, de voltar àquela época na qual as pessoas me olhavam diferente quando me perguntavam qual era a minha profissão e eu dizia alegremente e sem medo de (pré)julgamentos negativos, por culpa da maioria irresponsável: “sou jornalista de formação”...

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