Ainda bem que há exceções...

Algumas vezes tenho o péssimo hábito de ler comentários de usuários na internet, costume esse que - infelizmente - adquiri pelo ofício de ouvidora, que exerço há tantos anos. Geralmente são dizeres falsos, deploráveis e/ou desnecessários, feitos por pessoas que ou estão em busca de cliques ou de brigas (ou as duas coisas). 

Graças a nosso bom Deus, contudo, essa regra tem exceções valiosas e hoje me deparei com uma delas. Ao mesmo tempo que essa exceção me emocionou instantaneamente, fez-me refletir sobre o que realmente importa nessa época que vivemos, na qual algo invisível aos olhos nos obriga a não poder abraçar e beijar as pessoas que você mais ama na vida. Ao mesmo tempo, essa mesma coisa oculta também nos faz mais iguais e próximos do mundo, não importa a língua que você fale. 

Dentro desse cenário esquisito fui vítima do modo aleatório do Youtube, acabando num vídeo cover de uma música do Elvis Presley, que se chama Can'n Help Falling in Love. Eis que nesse hábito adquirido de ler comentários me deparei com o de uma pessoa, que em inglês escreveu que se lembrava dançando aquela música na festa de seu casamento, em 1982, com sua mulher; e como ele sentia saudades daquilo, expressando o nítido desejo de poder ver "sua querida" novamente.

Se ela faleceu, fugiu ou o deixou, isso só ele pode dizer. Mas aquelas poucas palavras me transportaram imediatamente àquela situação em uma década muito distante. Sem nunca ter dançado uma música romântica sequer nos meus 35 anos de existência, consegui sentir o que ele sentiu (respeitadas as dimensões). Quase vi o casal naquele instante que oficializaram o início de suas vidas juntos, num ano que eu nem havia "estreiado" nesse mundo.

O comentário dessa pessoa, que não faço ideia de quem seja, tem aproximadamente um ano a contar de hoje, mas é incrível como teve uma ação hipodérmica em mim, sendo que não faço o tipo romântico nem aqui e nem na China. É até simplista, mas foi a definição mais eficiente, sincera, objetiva e clara do mais lindo dos sentimentos, que muitos dos (considerados) melhores poetas nunca conseguiram me transmitir em seus textos. 

Um simples comentário foi capaz de me colocar diante de um cenário desconhecido de lembranças, sentimentos e histórias que nunca serão do meu conhecimento, mas que me fez sentir pura empatia numa simples música compartilhada no Youtube, por outro total desconhecido. Que vontade de abraçar todos aqueles que mais amo nessa vida; de ter de volta a vida normal, sem isolamento social e compartilhar histórias, momentos e sentimentos palpáveis tal como essa pessoa, ao som de Elvis Presley.

E que poder realmente maravilhoso as músicas têm na vida de um alguém (inclusive na minha). Ultrapassam gerações e idiomas, geram um sentimento tão forte que é capaz de motivar um indivíduo, por escrito e publicamente, a recordar e a demonstrar em poucas palavras - num comentário de internet! - a alegria de ter vivido um amor e a infelicidade de tê-lo perdido. 

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