Foi o que ela disse...

Juro que não conseguia entender o sucesso da série The Office. Chegava a revirar os olhos quando a via passando em algum canal e já trocava, sem ao menos dar uma chance. Mas essa repulsa, talvez, tenha existido por eu não ter insistido em chegar até a segunda temporada. Aí que tola que eu fui! 


Mas nesta quarentena, enfim, eu me redimi ao decidir assisti-la após ficar órfã da excelente Parks & Recreation. E ainda bem que fiz isso, pois The Office merece todo o reconhecido sucesso e tem um dos melhores roteiros que já tive a oportunidade de (felizmente) maratonar.


Os personagens são apaixonantes, mas não a curto prazo. Você se envolve a médio e a longo prazo (e está aí algo admiro num roteiro, pois é algo dificílimo de se conseguir).


Episódio a episódio você não sabe se ama ou se sente vergonha, ou até compaixão, pelo chefe Michael Scott. Senti todas essas coisas, sobretudo vergonha alheia, e passei a realmente admirar e a entender porque Steve Carell é o que é.


Vendo The Office em 2020 afirmo que me diverti MUITO, a ponto de refletir se a série faria o sucesso que fez se fosse lançada nos dias de hoje, nesse mundo no qual todo mundo quer dar opinião sobre tudo, sem entender de quase nada e - pior! - sem liberdade para falar algo que esteja fora da bolha. 


A série, aliás, estoura qualquer uma, porque explora os defeitos e qualidades de todos os personagens, sem dó ou piedade. E isso é maravilhoso.  


Realmente não sei se a “galera atual” conseguiria suportar um Michael Scott, com toda sua empatia, espontaneidade e falta de noção. Acredito que assim como o fantástico e raiz Dwight, ou a gateira e muitas vezes a diretíssima Ângela, o melhor dos personagens (que é ser quem exatamente é, sem se preocupar com julgamentos) já teria sido cancelado pela geração que venera os insignificantes e os insuportáveis irmãos Neto.


Não sei se esse mundo realmente estaria preparado em 2020 para as pegadinhas e às espetaculares reações de Jim, para a simplicidade e amizade de Pam, talvez estaria para o sinismo de Ryan ou para as loucuras de Meredith, mas não à cômica tolice de Kevin e à calma e à sabedoria de Oscar. 


A insegurança de Andy poderia até ser mais valorizada na sociedade atual, tal qual a impagável Kelly Kappor, o ambicioso Darryl e a simpatia oculta por Toby. Em contrapartida, acho que a arrogância de Stanley não poderia ser questionada e a existência de Phillys ou de Creed talvez nem fosse notada. 


Já a vivacidade de Erin, com toda a sua boa vontade, essa jamais estaria preparada para 2020. O mundo, aliás, não a merece, porque ela é boa demais para qualquer geração... 


Mesmo assim, bem aqui fora da bolha, fico feliz por ter assistido ao The Office, mesmo que seja há mais de 7 anos de seu fim oficial e de 15 anos de seu início. Acabei de maratoná-la e já estou com muita saudade. Que bom "que nos demos" uma segunda chance!

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