Um simples aceno à realidade…
Era sábado de manhã e o meu marido tinha ido correr. Estávamos com o tempo apertado para uns compromissos a partir das 12 horas e eu ainda tinha que ir até o meu serviço, porque queria ter a certeza que o Pingo, o gato de rua que está morando lá há algum tempo, tinha comida suficiente para passar bem o fim de semana.
No caminho da minha casa ao meu trabalho eu tenho que, obrigatoriamente, cruzar a linha férrea. E enquanto aguardava o recém-inaugurado trem de passageiros passar com seus vários vagões históricos e escutando os sinos da cancela, fiquei lá só vendo as pessoas sacudindo suas mãos, fazendo tchau com a expressão de felizes da vida por estarem se divertindo.
Entre crianças que você percebia que faziam aquilo pela primeira vez, pessoas tirando selfies e senhorinhas e senhorzinhos relembrando uma época áurea de suas vidas, lá estava eu dentro do carro e inerte aos abanos de mão. Aliás, eu e as pessoas nos carros ao meu redor, que mais queriam passar um por cima do outro que qualquer outra coisa naquele momento.
Mas essa simples situação que deve ter durado, no máximo, uns três minutos, fez-me me sentir horrível diante da minha total inércia vendo os alegres idosos chacoalhando suas mãos do trem. Isso porque eu não tive a coragem, a gentileza e a pachorra de retribuir um simples e gratuito tchau. E pior: eu ainda fiquei pensando se deveria fazer aquilo ou não. Que tipo de pessoa que pensa se deve ou não retribuir um abano de mão para uma criança ou um idoso enquanto passa um trem? Poupe-me, Gabriela.
Você pode até achar que é besteira essa reflexão transcrita num texto de um blog qualquer, mas para essa ‘pessoinha’ aqui atrás dos teclados não é. Naquela simples situação de um trânsito parado por conta da passagem de um trem na linha férrea percebi que preciso rever atitudes das quais aponto o dedo aos outros na minha cabeça o tempo todo. Percebi que entre ser apática pela rotina e ser humana, a primeira opção nunca deve existir (ou vou continuar a me arrepender por ficar desprovida por viver sem empatia).
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