Infância (des)controlada

Juca jogava bola todos os dias. Corria para lá e para cá com a pelota debaixo do braço chamando os vizinhos para participar. Sempre brincava de esconde-esconde e toda vez queria ser o último a correr ao pique e gritar ‘Salvo o mundo’, para que todos os que haviam sido pego antes voltassem à brincadeira. Não gostava nada nada de brincar de ‘rei da rua’, pois achava muito mais divertida a idéia de salvar o mundo.

Os anos passaram, a bola e o esconde-esconde ficaram para trás. As mulheres passaram a ser mais interessantes e o estudo virou prioridade. Juca começou a trabalhar e formou-se em engenharia. De fato, queria construir algo melhor, mas os projetos eram bem mais limitados a prédios e construções públicas. Nada mais de salvar o mundo. Havia crescido.

Casou-se aos 30 anos e após dois anos Matheus nasceu. Muito dedicado, sempre quis estar presente na vida do filho - também seria uma ótima oportunidade para recuperar todas aquelas brincadeiras de criança. Mas as coisas mudaram bastante. Matheus não gostava de jogar bola, preferia matar seres mitológicos. Também não gostava de brincar de esconde-esconde, era bem mais interessante brincar com personagens virtuais, gostava de controlar suas vidas.

Foi então que Juca percebeu que salvar o mundo não parece tão interessante para a nova geração, que adora ficar horas e horas na frente da TV ou do computador, até jogam bola lá. Eles não chamam mais os vizinhos no portão para brincar na rua, preferem se reunir em algum programa de conversação eletrônico. Tudo é feito on-line.

Por pouco pensa que tudo está descontrolado e perdido, mas logo ri e pensa: será que eles vão crescer com vontade de controlar as pessoas? A resposta é imediata: tomara que não! Juca espera que pelo menos o filho tenha boas recordações de seu tempo de infância, assim como tivera, e que arranje uma namorada à moda antiga, e não pela internet.

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