Dispenso o cravo, só fico com a canela...

Às meninas e mulheres quem levam em seu registro de identidade o mesmo nome que o meu nem é preciso explicar, pois esta situação é extremamente comum. Basta o simples fato de conhecer ou ser apresentada a uma nova pessoa que logo após os cumprimentos educados iniciais e a troca das “graças” lá vem a piadinha que nunca sairá de moda: “Gabriela, cravo e canela?”.

Pois é, pode até parecer simpático à primeira vista. Contudo, imagine-se ouvindo este comentário espirituoso durante toda a sua infância e, ainda no ápice do período infanto-juvenil, descobrir que o bendito referenciava uma obra literária regionalista muito famosa de Jorge Amado, traduzida para aproximadamente 15 idiomas e que abordava – dizendo isso de maneira muito superficial e sem uma análise abrangentemente literária – o ciclo do cacau, com seus coronéis, prostitutas e todo tipo de 171.

Até aí tudo bem vai, que exagero o meu. Entretanto, para incrementar um pouco, agora some o “Gabriela, cravo e canela” ao irônico “Também sobe no telhado?”. Ingênuo, talvez, mas não quando se refere a uma cena exibida numa série televisiva feita por uma atriz entre as mais polêmicas das décadas de 70 e 80. Encarnando a personagem que dá nome à obra, a bendita Gabriela do Amado, sobe no telhado sem calcinha para pegar uma pipa. Pronto, o estrago pré-adolescente estava consumado e as piadinhas pareciam se tornar eternas cada vez que uma bola, uma pipa ou qualquer coisa caísse no telhado perto de mim. Piada pronta, brasileiro adora independentemente de sua faixa etária.

Apesar de todo esse meu trauma ultrapassado com a dita personagem – porque ela tinha que ter meu nome ou eu o dela? – os segundos comentários que acompanhavam o “cravo e canela” cessaram com o passar dos anos e passei muitas luas sem ouvi-los, até que esta semana chegasse. Tudo bem vai, a Gabriela que dá nome à obra pode até ser sinônimo de vitalidade e reunir animação, beleza e despertar por sua feminilidade aguçada (vamos dizer assim) a fúria e inveja de outras mulheres, porém eu sinceramente nunca gostei desta associação lógica e destas piadinhas. Continuo a dispensá-las, mesmo com minha paciência e bom humor para escutá-las novamente em dia. Abro mão do cravo, dos comentários e fico apenas com a canela, no café ou na balinha...

Crédito da imagem: divulgação no Google.

Comentários

Unknown disse…
Dona Gabriela, Cravo e canela - que texto adorável!
Gabriela Angeli disse…
Obrigada, Ná, muita bondade sua! :)
Flávio disse…
Já falei para vocês escrever um livro quantas vezes?!?

"Totalmente Excelente"!

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