Heróis de infância...
Ao recordar a infância é inevitável não relembrar com saudosismo desenhos animados, programas da TV Cultura e as peripécias de alguns super-heróis. Por isso não é difícil de acreditar que muitos, assim como eu, também recordam felizes da vida os personagens que tornaram esta época ainda mais divertida e gostosa. No meu caso também posso incluir uma figura importantíssima, que conheci quando nem era tão criança assim...
Já era uma “pré-adolescente” quando o Gilberto começou a freqüentar a rua em frente de casa. No começo foi estranho porque ele tinha seus 40 anos e queria ficar mais próximo da turma, que tinha entre 8 e 13 anos. Entretanto, aos poucos percebemos que o Giba não era um adulto de verdade, era até mais inocente que muitos de nós que tínhamos 1/3 da idade dele. Tornou-se um fiel amigo.
Talvez isso explique porque mesmo depois de tanto tempo ainda lembro a forma que ele chegava na rua, gritando desde a esquina “Oba, oba, pessoal!”, com uma pronúncia balbuciada, eufórica como de criança. Também lembro de como admirava a mulecada brincando de bola e como ficava bravo quando brigávamos por motivos idiotas, ia embora.
Para falar a verdade, acho que nunca esquecerei que ele adorava andar de bicicleta enquanto jogávamos futebol, sempre pedia para alguém: “Posso dar uma voltinha só, uma voltinha só?”, de forma nervosa e receosa, com medo de um não. Nunca demos uma resposta negativa e a voltinha que era para ser uma só durava horas e horas e o deixava feliz, sentimento refletido plenamente em um sorriso sincero e nos agradecimentos “Obrigado, obrigado e obrigado”. Três vezes, sempre!
Aos poucos, o Giba nos conquistou tanto que nos preocupávamos em não acertar a bola nele durante os jogos de futebol - enquanto passeava de bicicleta na calçada- , nos preocupávamos quando ele não aparecia e/ou quando chegava triste, porque sua mãe estava doente. Entre nós, crianças, era o mais autêntico de todos.
E como o tempo tem que passar, crescemos, deixamos de freqüentar a rua e cada um foi para o seu canto. O Giba foi o único que não deixou de dar uma passadinha lá e quando não havia ninguém para conversar ficava apenas ali, quieto e sentado, sendo levado pela força de seu pensamento. Sinceramente acho que tinha a esperança que chegássemos ali novamente e começasse tudo de novo, mas apenas passávamos e o cumprimentávamos, nada mais de velhos tempos. Aos poucos ele também foi deixando de aparecer, sumiu assim como fizemos.
Mas para minha felicidade o encontrei há alguns dias por aí, andando com aquele jeito de muleque de sempre: shorts, camiseta e tênis com a meia lá em cima. Ia passando rapidamente quando gritei: “E aí, Giba?”. Ele logo tomou um susto e mesmo de longe me reconheceu na hora, atravessou correndo a rua e me deu um abraço tão forte que levei um tranco, demos risadas e conversamos um pouco. Sei que está tocando a vida sem a mãe, que faleceu, e que continua a admirar as pessoas e a andar de bicicleta. Agora as crianças que moram em outro bairro são as felizardas em ter sua companhia, vai lá todo fim de tarde assim como fazia na frente de casa, quando eu ainda pensava e brincava de ser jornalista.
O mais legal de tudo isso é que bastou ele se despedir para eu perceber que aquele momento iria ficar imortalizado na minha mente, como todos os outros nos quais ele esteve presente. Afinal, não é todos os dias que encontramos super-heróis de nossa infância andando pelas ruas, um homem de carne e osso...
Giba, aquele abraço sempre!
Comentários
Qm sabe se aos meus 40 anos eu também não possa fazer isso?
Achooo q não, mas tudo bem...
^^
Té mais!
Beijos,
Gabi.