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Mostrando postagens de fevereiro, 2025

Fora do peito...

A saudade é uma coisa engraçada. Em alguns momentos ela parece nos confortar, mas em outros parece nos sufocar. Não sei se é amiga ou inimiga. A única certeza que tenho é de sua natureza dúbia, que sempre me confronta. Nos pensamentos algumas vezes ganho, e em outras não. Mas há tanto tempo penso em escrever sobre ela! Só reflito e fico prostrada, mas hoje tive coragem. É que bateu uma saudade boa, daquelas que a gente sente até o cheiro, e que, se eu não colocasse em palavras para fora do peito, acho que explodiria. Hoje não perco! Ela é esperta, sabe do que se alimenta. E, quando a vivência é boa, ela judia e irradia, clamando por atenção. Bate, vem forte e não traz consigo aquele momento, a ingrata. Ela te faz lembrar de tudo: do cheiro, da voz, da paisagem, da miragem, o que seja. Parece fome, daquelas urgentes, que só se sacia quando desfrutamos com calma e fartura. Só sei que queria curá-la com um suspiro ou com um soneto. Sei lá! Queria essa saudade fora do meu peito...

Jamais sem elas…

Palavras me encantam e sempre me encantaram. Sou apaixonada por elas desde a infância. Com elas faço de tudo um pouco: do meu ganha pão a muleta para superar meus próprios medos e sentimentos. Uso e abuso delas com ou sem intenção.   Ah, as palavras! Com elas me permito ser eu mesma, sem medo de mostrar minhas facetas e defeitos. Em meio a elas sou só eu, euzinha e mais nada, nua e faceira, toda solta, frente a meus pensamentos que se transformam em algo palpável e prazeiroso aos meus olhos.  Sim, as palavras. Elas me permitem seguir, interagir e sonhar. As uso com urgência e intensidade, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe. Aliás, com elas o casamento vale, pois é o único que dá certo no curto, médio e longo prazo. Afinal, são o que são em seus significados e quando não são carregam a versatilidade suficiente para te fazer refletir e agir. Elas não te prendem, te libertam. São duradouras e transformadoras, no papel ou fora dele.  Ah...

Não foi por você…

Um dia me fizeram prometer que nunca choraria por determinada causa. E eu, imediatamente, neguei esta promessa. E até por isso é que tenho liberdade para escrever este texto, sem medo de confessar que já fiz isso muitas e muitas vezes. Mas o choro não foi por você. Foi por mim, por ter sentido a sua falta e não poder compartilhar contigo um fim de dia, um fim de semana, um simples sorriso, um andar de mãos dadas, um abraço ou ter um beijo roubado. Repito: meu choro não foi por você, mas por mim mesma. Foi  por não sentir seu cheiro e ficar no escuro, sem notícias e sem direção. Foi por não poder te abraçar e te ouvir quando mais precisa e por não saber sobre seu dia. Foi por não poder fazer absolutamente nada para que se sinta melhor.   É sério quando reitero que meu choro não foi por você. Sempre foi e será só por mim, por estar longe da sua presença, em abstinência. Foi por querer compartilhar o ordinário e o extraordinário contigo, por te querer e desejar para uma vida int...

Eu mesma no mar…

Minha crônica favorita fala de um homem no mar . É um texto rotineiramente magnífico de Rubem Braga, que sempre que leio me faz visualizar e sentir exatamente cada letra como se fosse um filme na minha mente. E hoje, enquanto olhava fixamente para o mar num fim de tarde, deparei-me com meu próprio conto pessoal, materializando-se de forma tão palpável que se transformou nestas palavras. Olhando para aquele mar, com aquele barco solitário, juro que me enxerguei dentro de um crônico dilema. Fiquei pensando no desejo da ilusão, em perder-me na imensidão daquele mar, para nunca mais me achar. Pensei assim porque sei que  tudo não se passa de um doce engano dos sentidos, que desampara amargamente a minha razão. É, caro leitor, acordar de meu devaneio parece não ser possível, mas será quando toda tormenta passar. E ela vai, só vai, porque não há tempestade pela qual não se aprenda mais e não se saiba enfrentar.  Naquele imenso mar, com aquele barco deslizando lentamente, deparei-me ...