Um sonho de Cinema Paradiso...
A paixão de Alan pelo cinema começou bem cedo. Aos 7 anos, ao entrar na sala escura, seus olhos encheram de lágrimas e mal podia acreditar na imagem que via naquela tela enorme; achava que os cavalos do filme estavam bem atrás dela. Havia ficado encantado com a possibilidade de ver inúmeras histórias, bem à sua frente.
E como uma boa criança de 7 a 10 anos, Alan colocou na cabeça que deveria ter um cinema só dele. Descobriu na cidade na qual morava um homem que tinha um projetor e, por acaso, era pai de um amigo seu. Durante um bom tempo tentou negociar com o tal homem a venda do equipamento e, após várias tentativas, o pai de seu amigo enfim vendeu a aparelhagem para o jovem garoto, pois não aguentava mais tanta insistência.
Mas ele ainda não estava contente. Já mais crescidinho comprou uma nova casa e conseguiu toda a aparelhagem que precisava trabalhando como jornalista e cantor. Começou então a deixar o portão de sua casa aberto para que todos pudessem entrar e assistir suas relíquias. Tinha montado seu próprio cinema.
Amante das velhas películas, Alan sempre aceitava doações de filmes antigos e também fazia trocas com outros cinéfilos. Nesta época já tinha mais de 300 obras e orgulhava-se de ter viajado para vários lugares do Brasil só para buscar um novo filme, porém não foi preciso ir muito longe para buscar o último: um rolo de película de nitrato de prata de Marcelino, pão e vinho, a história que mais gostava. Para ter o que tanto queria havia apenas uma condição: não assistir ao filme e guardá-lo como lembrança, já que o material era bem antigo e altamente inflamável.
Era uma noite de quinta-feira e Alan ouviu atentamente as recomendações do doador, mas não suportou deixar o filme guardado. Assistiu sozinho o primeiro rolo e, ao colocar o segundo, nem imaginava o que iria acontecer. Sentado em seu próprio cinema ouviu uma explosão na cabine de exibição e em pouco tempo o fogo destruiu o que ele levou anos para construir. A cena era quase uma refilmagem de Cine Paradiso.
Após o triste incêndio, Alan começou a reconstruir tudo. Enquanto isso levava os poucos projetores e seus filmes que restaram em uma caravan e os exibia em qualquer lugar, bastava convidá-lo. Sem a ajuda de ninguém, começou a levar cultura a pessoas que nunca tinham tido a oportunidade de ir a um cinema e criou o projeto Cinema Itinerante, que mantém até hoje (mesmo após ter reconstruído a sala de cinema em sua casa).
Quem quiser conferir esta história pode ir até Itatiba, interior de São Paulo, e perguntar ao próprio Alan Duarte se tudo isto que escrevi é real ou não. Para encontrá-lo basta ir ao seu novo espaço, batizado de Cineclube José Cesarini. Lá você encontrará um cinema à moda antiga, com gongo anunciando o início da sessão e uma grande cortina, que é aberta para que o filme seja exibido. Com certeza vai se surpreender tanto ou ainda mais que eu...
Comentários
Que bom que gostou do post. O Alan é uma figura adorável, adorei conhecê-lo. A forma como ele fala de cinema é apaixonante, naquele dia a hora passou que nem vi! risos...
Fiquei surpresa em saber que você também o conhece. Acho excelente a idéia de divulgar estas histórias, que devem ser tão boas quanto ao personagem deste meu post. Vou ler a de seu blog também, amo história informal!
Vou procurar em minhas coisas o contato do Alan. O conheci por um menino que fez um curso comigo. Assim que eu tiver lhe passo por e-mail. Ele ficará feliz em conversar com você, como ele mesmo diz os cinéfilos são únicos, pessoas divertidas e que sempre têm boas histórias!
Um beijo...